NO PAÍS DO FAZ DE CONTA
No país do faz de conta, pague a
conta, não leve em conta, não se incomode ou se importe, afinal não tem jeito
mesmo... Direitos? A permanecer calado. Pelo menos querem que pensemos assim.
Anda, pague logo essa comanda e morra em paz.
Você fica indignado com o que?
Quando a luz vai embora, quando a internet cai, quando sua personagem no BBB é
eliminada? Realmente... Você ficou indignado.
Você fica incomodado com o que?
Quando alguém questiona as músicas que você ouve, as roupas que veste, quando servem
a bebida quente, quando alguém fala sobre política?
Você questiona o que? A ousadia
da sua mãe em proibir que você saia de casa para ir a uma festa, a escalação
equivocada do seu time, a falta de dinheiro no final do mês?
Você fica comovido com o que?
Você questiona o que? O atendente do pronto-socorro, as filas para entrar em um show, a falta de educação dos outros?
Você acorda e “vê”... Hospitais lotados, corrupção pra todo lado, cadáveres
se amontoando na tela da tv e apresentadores sanguinários fazem da carnificina
alheia seu “ganha pão”.
Já bastam os meus problemas, os
políticos aparecem sempre na época da eleição depois somem, político “é tudo
[sic] ladrão”, política, futebol e religião não se discutem. Máximas dos “filósofos”
de plantão.
Em terra de cidadão pouco
consciente prevalecem os jargões e eterniza-se o refrão:
“A nossa indignação / É uma mosca
sem asas / Não ultrapassa as janelas / De nossas casas / Indignação, indigna /
Indigna, inação”. (Skank – Indignação)
Não precisa sair por aí batucando
em panelas, gritando palavras de ordem, embora seja nosso conformismo a razão
de todo mal no qual padecemos. Na verdade, toda consciência implica deixarmos o
imobilismo de lado. Toda tomada de consciência implica novos pensamentos e
atitudes.
Pensar, refletir, questionar,
incomodar, ler, ver, rever, discordar, buscar, raciocinar, interpretar ao invés
de assistir, aceitar, decorar, repetir, imitar...
Conhecimento é um artigo
perigoso, e a sensação de liberdade deve ser preservada a todo custo, de
preferência em dez vezes sem juros pra caber no bolso. No Brasil o cliente não
tem razão, admiti-se inexperiência, o negócio é sujo, o lucro absurdo, sigilo garantido.
No exercício da paz cotidiana, da cidadania velada, vivemos às margens plácidas
a espera do povo mais que heroico, simplesmente povo, o qual seu brado
retumbante se faça ouvir.
Rodrigo Costa Lima
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P.S.: Escrevi esse texto antes das manifestações populares no Brasil, hoje vislumbro o adentrar em um novo período da história nacional. O nosso "País do faz de conta", contará para as futuras gerações a mudança positiva que a população conseguiu iniciar.